Confissões à queima roupa

quarta-feira, maio 30, 2007

Adeus

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquina
sem esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de tinão há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.


Eugénio de Andrade

terça-feira, maio 29, 2007

Um motivo

Um motivo, dá-me apenas um motivo para não gostar de ti. Dá-me uma razão para abandonar os meus pensamentos e voltar a repensar sem te pensar a ti. Uma alternativa, dá-me uma alternativa que não sejas tu. Dá-me algo de mau, tão mau que me faça ignorar todo o bem que vejo em ti. Dá-me sorte, faz com que me sinta afortunada por não te ter, por não te querer. Dá-me esperança e mostra-me outro caminho, aquele que não passa por ti, não te quero ter mais como minha estrada, vou mudar de direcção pois já não te vejo ao virar da esquina ansioso pela minha breve passagem. Dá-me o luto, o luto porque em nós algo morreu. Mas principalmente dá-me fé, dá-me fé para mudar os motivos, as razões, as alternativas, a sorte, as direcções que me levaram até ti e me fizeram irremediavelmente apaixonar.

terça-feira, maio 15, 2007

Bloc party - Blue light

Bloc Party - Blue Light


You'll find it hiding in shadows
You'll find it hiding in cupboards
It will walk you home safe every night
It will help you remember

If that's way it is
Then that's the way it is

I still feel you and the taste of cigarettes
What could I ever run to
Just tell me it's tearing you apart
Just tell me you cannot sleep

If that's way it is
Then that's the way it is

And you didn't even notice
When the sky turned blue
And you couldn't tell the difference
Between me and you
And I nearly didn't notice
The gentlest feeling

You are the bluest light
You are the bluest light



(agora não consigo meter videos do youtube que também é fofo...)

quinta-feira, maio 03, 2007

Cartaz Queima das Fitas





(não que seja lá muito bonito este cartaz, mas enfim é o que há)

Feiticeira

Ó meu amor,
minha linda feiticeira,
Eu daria a vida inteira
Por um só beijo dos teus.

Por teu amor,
A minha vida era pouca,
P'ra beberes da minha boca,
O beijo do eterno adeus.

Ó meu amor
Sonho lindo este que eu tive
Única esperança que vive
Na minha alma a soluçar.

Por teu amor
Eu morria de desejo
Deste-me a vida num beijo
Eu vivi por te beijar.

Serenata


Faltam menos de 24 horas para a famosa serenata. Amanhã todos os estudantes de Coimbra que ainda acreditam na tradição, e digam o que disserem a tradição aqui ainda é o que era, saem de casa com a sua capa e batina para ouvirem mais uma vez o fado de Coimbra no silêncio da noite naquele fantástico cenário que é a Sé Velha. É uma noite sem dúvida mágica! Com muitos copos à mistura e uma ansiedade pela Queima das Fitas os estudantes dão vida à cidade, como só eles sabem fazer. Ainda me lembro perfeitamente da minha serenata do ano passado, o ano em que era caloira, foi nesse dia que saí à rua pela primeira vez trajada, e era um orgulho imenso! A primeira vez que vestimos o traje sentimos realmente que fazemos parte da cidade, que fazemos parte desta academia. E ao chegar à Sé Velha só se vê o negro das capas traçadas, e a lua lá em cima que sorri para nós, e mesmo sem querer-mos ficamos emocionados com tal cenário de esplendor e sentimento. Abracei as minhas amigas dizendo-lhes o quanto gostava delas e o quão contente estava por as ter conhecido, e ali todas juntas chorámos de alegria. Este ano é diferente, mas não deixo de me sentir ansiosa por voltar a sentir tudo aquilo, este ano somos nós que levamos as nossas caloiras e lhes traçamos as capas, e por isso é um sentimento novo, mas não deixa de ser bom. Mas sem dúvida que para quem é caloiro amanhã é um dia ainda mais especial, por um lado contentes por vestirem o traje, por outro triste por deixarem de ser caloiros! As saudades de ser caloiro não passam, mas o tempo esse sim não perdoa! Mas na minha opinião o que conta é o espirito. Tal como eu, doutora por fora, mas caloira por dentro!